7. Entrada e Saída¶
Existem várias maneiras de apresentar a saída de um programa; os dados podem ser exibidos em forma legível para seres humanos, ou escritos em arquivos para uso posterior. Este capítulo apresentará algumas das possibilidades.
7.1. Refinando a formatação de saída¶
Até agora vimos duas maneiras de exibir valores: expressões e a função print()
. (Uma outra maneira é utilizar o método write()
de objetos do tipo arquivo; o arquivo saída padrão pode ser referenciado como sys.stdout
. Veja a Referência da Biblioteca Python para mais informações sobre isso.)
Muitas vezes se deseja mais controle sobre a formatação da saída do que simplesmente exibir valores separados por espaço. Existem várias maneiras de formatar a saída.
Para usar strings literais formatadas, comece uma string com
f
ouF
, antes de abrir as aspas ou aspas triplas. Dentro dessa string, pode-se escrever uma expressão Python entre caracteres{
e}
, que podem se referir a variáveis, ou valores literais.>>> year = 2016 >>> event = 'Referendum' >>> f'Results of the {year} {event}' 'Results of the 2016 Referendum'
O método de strings
str.format()
requer mais esforço manual. Ainda será necessário usar{
e}
para marcar onde a variável será substituída e pode-se incluir diretivas de formatação detalhadas, mas também precisará incluir a informação a ser formatada.>>> yes_votes = 42_572_654 >>> no_votes = 43_132_495 >>> percentage = yes_votes / (yes_votes + no_votes) >>> '{:-9} YES votes {:2.2%}'.format(yes_votes, percentage) ' 42572654 YES votes 49.67%'
Finalmente, pode-se fazer todo o tratamento da saída usando as operações de fatiamento e concatenação de strings para criar qualquer layout que se possa imaginar. O tipo string possui alguns métodos que realizam operações úteis para preenchimento de strings para uma determinada largura de coluna.
Quando não é necessário sofisticar a saída, mas apenas exibir algumas variáveis com propósito de depuração, pode-se converter qualquer valor para uma string com as funções repr()
ou str()
.
A função str()
serve para retornar representações de valores que sejam legíveis para as pessoas, enquanto repr()
é para gerar representações que o interpretador Python consegue ler (ou levantará uma exceção SyntaxError
, se não houver sintaxe equivalente). Para objetos que não têm uma representação adequada para consumo humano, str()
devolve o mesmo valor que repr()
. Muitos valores, tal como números ou estruturas, como listas e dicionários, têm a mesma representação usando quaisquer das funções. Strings, em particular, têm duas representações distintas.
Alguns exemplos:
>>> s = 'Hello, world.'
>>> str(s)
'Hello, world.'
>>> repr(s)
"'Hello, world.'"
>>> str(1/7)
'0.14285714285714285'
>>> x = 10 * 3.25
>>> y = 200 * 200
>>> s = 'The value of x is ' + repr(x) + ', and y is ' + repr(y) + '...'
>>> print(s)
The value of x is 32.5, and y is 40000...
>>> # The repr() of a string adds string quotes and backslashes:
... hello = 'hello, world\n'
>>> hellos = repr(hello)
>>> print(hellos)
'hello, world\n'
>>> # The argument to repr() may be any Python object:
... repr((x, y, ('spam', 'eggs')))
"(32.5, 40000, ('spam', 'eggs'))"
O módulo string
contém uma classe Template
que oferece ainda outra maneira de substituir valores em strings, usando espaços reservados como $x
e substituindo-os por valores de um dicionário, mas oferece muito menos controle da formatação.
7.1.1. Strings literais formatadas¶
Strings literais formatadas (também chamadas f-strings, para abreviar) permite que se inclua o valor de expressões Python dentro de uma string, prefixando-a com f
ou F
e escrevendo expressões na forma {expression}
.
Um especificador opcional de formato pode ser incluído após a expressão. Isso permite maior controle sobre como o valor é formatado. O exemplo a seguir arredonda pi para três casas decimais:
>>> import math
>>> print(f'The value of pi is approximately {math.pi:.3f}.')
The value of pi is approximately 3.142.
Passando um inteiro após o ':'
fará com que o campo tenha um número mínimo de caracteres de largura. Isso é útil para alinhar colunas.
>>> table = {'Sjoerd': 4127, 'Jack': 4098, 'Dcab': 7678}
>>> for name, phone in table.items():
... print(f'{name:10} ==> {phone:10d}')
...
Sjoerd ==> 4127
Jack ==> 4098
Dcab ==> 7678
Outros modificadores podem ser usados para converter o valor antes de ser formatado. '!a'
aplica a função ascii()
, '!s'
aplica a função str()
e '!r'
aplica a função repr()
>>> animals = 'eels'
>>> print(f'My hovercraft is full of {animals}.')
My hovercraft is full of eels.
>>> print(f'My hovercraft is full of {animals!r}.')
My hovercraft is full of 'eels'.
Para uma referência dessas especificações de formatos, veja o guia de referência para Minilinguagem de especificação de formato.
7.1.2. O método format()¶
Um uso básico do método str.format()
tem esta forma:
>>> print('We are the {} who say "{}!"'.format('knights', 'Ni'))
We are the knights who say "Ni!"
As chaves e seus conteúdos (chamados campos de formatação) são substituídos pelos objetos passados para o método str.format()
. Um número nas chaves pode ser usado para referenciar a posição do objeto passado no método str.format()
.
>>> print('{0} and {1}'.format('spam', 'eggs'))
spam and eggs
>>> print('{1} and {0}'.format('spam', 'eggs'))
eggs and spam
Se argumentos nomeados são passados para o método str.format()
, seus valores serão referenciados usando o nome do argumento:
>>> print('This {food} is {adjective}.'.format(
... food='spam', adjective='absolutely horrible'))
This spam is absolutely horrible.
Argumentos posicionais e nomeados podem ser combinados à vontade:
>>> print('The story of {0}, {1}, and {other}.'.format('Bill', 'Manfred',
other='Georg'))
The story of Bill, Manfred, and Georg.
If you have a really long format string that you don’t want to split up, it
would be nice if you could reference the variables to be formatted by name
instead of by position. This can be done by simply passing the dict and using
square brackets '[]'
to access the keys.
>>> table = {'Sjoerd': 4127, 'Jack': 4098, 'Dcab': 8637678}
>>> print('Jack: {0[Jack]:d}; Sjoerd: {0[Sjoerd]:d}; '
... 'Dcab: {0[Dcab]:d}'.format(table))
Jack: 4098; Sjoerd: 4127; Dcab: 8637678
Isto também pode ser feito passando o dicionário como argumento do método, usando a notação **:
>>> table = {'Sjoerd': 4127, 'Jack': 4098, 'Dcab': 8637678}
>>> print('Jack: {Jack:d}; Sjoerd: {Sjoerd:d}; Dcab: {Dcab:d}'.format(**table))
Jack: 4098; Sjoerd: 4127; Dcab: 8637678
Isto é particularmente útil em conjunto com a função embutida vars()
, que devolve um dicionário contendo todas as variáveis locais.
Como exemplo, as linhas seguintes produzem um conjunto de colunas alinhadas, com alguns inteiros e seus quadrados e cubos:
>>> for x in range(1, 11):
... print('{0:2d} {1:3d} {2:4d}'.format(x, x*x, x*x*x))
...
1 1 1
2 4 8
3 9 27
4 16 64
5 25 125
6 36 216
7 49 343
8 64 512
9 81 729
10 100 1000
Para uma visão completa da formatação de strings com str.format()
, veja a seção Sintaxe das strings de formato.
7.1.3. Formatação manual de string¶
Aqui está a mesma tabela de quadrados e cubos, formatados manualmente:
>>> for x in range(1, 11):
... print(repr(x).rjust(2), repr(x*x).rjust(3), end=' ')
... # Note use of 'end' on previous line
... print(repr(x*x*x).rjust(4))
...
1 1 1
2 4 8
3 9 27
4 16 64
5 25 125
6 36 216
7 49 343
8 64 512
9 81 729
10 100 1000
(Note que o espaço entre cada coluna foi adicionado pela forma que a função print()
funciona: sempre adiciona espaços entre seus argumentos.)
O método str.rjust()
justifica uma string à direita, num campo de tamanho definido, acrescentando espaços à esquerda. De forma similar, os métodos str.ljust()
, justifica à esquerda, e str.center()
, para centralizar. Esses métodos não escrevem nada, apenas retornam uma nova string. Se a string de entrada é muito longa, os métodos não truncarão a saída, e retornarão a mesma string, sem mudança; isso vai atrapalhar o layout da coluna, mas geralmente é melhor do que a alternativa, que estaria distorcendo o valor. (Se realmente quiser truncar, sempre se pode adicionar uma operação de fatiamento, como em x.ljust(n)[:n]
.)
Existe ainda o método str.zfill()
que preenche uma string numérica com zeros à esquerda, e sabe lidar com sinais positivos e negativos:
>>> '12'.zfill(5)
'00012'
>>> '-3.14'.zfill(7)
'-003.14'
>>> '3.14159265359'.zfill(5)
'3.14159265359'
7.1.4. Formatação de strings à moda antiga¶
The % operator (modulo) can also be used for string formatting. Given 'string'
% values
, instances of %
in string
are replaced with zero or more
elements of values
. This operation is commonly known as string
interpolation. For example:
>>> import math
>>> print('The value of pi is approximately %5.3f.' % math.pi)
The value of pi is approximately 3.142.
Mais informação pode ser encontrada na seção Formatação de String no Formato printf-style.
7.2. Leitura e escrita de arquivos¶
A função open()
devolve um file object, e é frequentemente usada com dois argumentos: open(filename, mode)
.
>>> f = open('workfile', 'w')
O primeiro argumento é uma string contendo o nome do arquivo. O segundo argumento é outra string, contendo alguns caracteres que descrevem o modo como o arquivo será usado. mode pode ser 'r'
quando o arquivo será apenas lido, 'w'
para escrever (se o arquivo já existir seu conteúdo prévio será apagado), e 'a'
para abrir o arquivo para adição; qualquer escrita será adicionada ao final do arquivo. A opção 'r+'
abre o arquivo tanto para leitura como para escrita. O argumento mode é opcional, em caso de omissão será assumido 'r'
.
Normalmente, arquivos são abertos em text mode, ou seja, você lê e grava strings, de e para o arquivo, numa codificação específica. Se a codificação não for especificada, o padrão é dependente da plataforma/sistema operacional (consulte open()
). Incluir 'b'
ao mode abre o arquivo em binary mode: os dados são lidos e escritos na forma de bytes. Esse modo deve ser usado para todos os arquivos que não contenham texto.
Em modo texto, o padrão durante a leitura é converter terminadores de linha específicos da plataforma (\n
no Unix, \r\n
no Windows) para apenas \n
. Ao escrever no modo de texto, o padrão é converter as ocorrências de \n
de volta para os finais de linha específicos da plataforma. Essa modificação de bastidores nos dados do arquivo é adequada para arquivos de texto, mas corromperá dados binários, como arquivos JPEG
ou EXE
. Tenha muito cuidado para só usar o modo binário, ao ler e gravar esses arquivos.
É uma boa prática usar a palavra-chave with
ao lidar com arquivos. A vantagem é que o arquivo é fechado corretamente após o término de sua utilização, mesmo que uma exceção seja levantada em algum momento. Usando with
também é muito mais curto que escrever seu bloco equivalente try
-finally
:
>>> with open('workfile') as f:
... read_data = f.read()
>>> f.closed
True
Se você não estiver usando a palavra-chave with
, então você deve chamar f.close()
para fechar o arquivo, e liberar imediatamente quaisquer recursos do sistema usados por ele. Se você não fechar explicitamente um arquivo, o coletor de lixo do Python irá eventualmente destruir o objeto e fechar o arquivo aberto para você, mas o arquivo pode ficar aberto por um tempo. Outro risco é que diferentes implementações de Python farão essa limpeza em momentos diferentes.
Depois que um arquivo é fechado, seja por uma instrução with
ou chamando f.close()
, as tentativas de usar o arquivo falharão automaticamente.
>>> f.close()
>>> f.read()
Traceback (most recent call last):
File "<stdin>", line 1, in <module>
ValueError: I/O operation on closed file.
7.2.1. Métodos de objetos arquivo¶
Para simplificar, o resto dos exemplos nesta seção assumem que um objeto arquivo chamado f
já foi criado.
Para ler o conteúdo de um arquivo, chame f.read(tamanho)
,que lê um punhado de dados devolvendo-os como uma string (em modo texto) ou bytes (em modo binário). tamanho é um argumento numérico opcional. Quando tamanho é omitido ou negativo, todo o conteúdo do arquivo é lido e devolvido; se o arquivo é duas vezes maior que memória da máquina, o problema é seu. Caso contrário, no máximo tamanho caracteres (em modo texto) ou tamanho bytes (em modo binário) são lidos e devolvidos. Se o fim do arquivo for atingido, f.read()``devolve uma string vazia (
‘’``).
>>> f.read()
'This is the entire file.\n'
>>> f.read()
''
O método f.readline()
lê uma única linha do arquivo; o caractere de quebra de linha (\n
) é mantido ao final da string, e só é omitido na última linha do arquivo, se o arquivo não terminar com uma quebra de linha. Isso elimina a ambiguidade do valor retornado; se f.readline()
retorna uma string vazia, o fim do arquivo foi atingido. Linhas em branco são representadas por um '\n'
– uma string contendo apenas o caractere terminador de linha.
>>> f.readline()
'This is the first line of the file.\n'
>>> f.readline()
'Second line of the file\n'
>>> f.readline()
''
Uma maneira alternativa de ler linhas do arquivo é iterar diretamente pelo objeto arquivo. É eficiente, rápido e resulta em código mais simples:
>>> for line in f:
... print(line, end='')
...
This is the first line of the file.
Second line of the file
Se desejar ler todas as linhas de um arquivo em uma lista, pode-se usar list(f)
ou f.readlines()
.
f.write(string)
escreve o conteúdo de string para o arquivo, retornando o número de caracteres escritos.
>>> f.write('This is a test\n')
15
Outros tipos de objetos precisam ser convertidos – seja para uma string (em modo texto) ou para bytes (em modo binário) – antes de escrevê-los:
>>> value = ('the answer', 42)
>>> s = str(value) # convert the tuple to string
>>> f.write(s)
18
f.tell()
retorna um inteiro dando a posição atual do objeto arquivo, no arquivo representado, como número de bytes desde o início do arquivo, no modo binário, e um número ininteligível, quando no modo de texto.
Para mudar a posição, use f.seek(offset, de_onde)
. A nova posição é computada pela soma do deslocamento offset a um ponto de referência especificado pelo argumento de-onde. Se o valor de de_onde é 0,a referência é o início do arquivo, 1 refere-se à posição atual, e 2 refere-se ao fim do arquivo. Este argumento pode ser omitido e o valor padrão é 0, usando o início do arquivo como referência.
>>> f = open('workfile', 'rb+')
>>> f.write(b'0123456789abcdef')
16
>>> f.seek(5) # Go to the 6th byte in the file
5
>>> f.read(1)
b'5'
>>> f.seek(-3, 2) # Go to the 3rd byte before the end
13
>>> f.read(1)
b'd'
Em arquivos texto (abertos sem um b
, em modo string), somente seeks relativos ao início do arquivo serão permitidos (exceto se for indicado o final do arquivo, com seek(0, 2)
) e o único valor válido para offset são aqueles retornados por chamada à f.tell()
, ou zero. Qualquer outro valor para offset produz um comportamento indefinido.
Objetos arquivo tem alguns método adicionais, como isatty()
e truncate()
que não são usados com frequência; consulte a Biblioteca de Referência para um guia completo de objetos arquivo.
7.2.2. Gravando dados estruturados com json
¶
Strings podem ser facilmente gravadas e lidas em um arquivo. Números dão um pouco mais de trabalho, já que o método read()
só retorna strings, que terão que ser passadas para uma função como int()
, que pega uma string como '123'
e retorna seu valor numérico 123. Quando você deseja salvar tipos de dados mais complexos, como listas e dicionários aninhados, a análise e serialização manual tornam-se complicadas.
Ao invés de ter usuários constantemente escrevendo e depurando código para gravar tipos complicados de dados em arquivos, o Python permite que se use o popular formato de troca de dados chamado JSON (JavaScript Object Notation). O módulo padrão chamado json
pode pegar hierarquias de dados em Python e convertê-las em representações de strings; esse processo é chamado serialização. Reconstruir os dados estruturados da representação string é chamado desserialização. Entre serializar e desserializar, a string que representa o objeto pode ser armazenada em um arquivo, ou estrutura de dados, ou enviada por uma conexão de rede para alguma outra máquina.
Nota
O formato JSON é comumente usado por aplicativos modernos para permitir troca de dados. Pessoas que programam já estão familiarizadas com esse formato, o que o torna uma boa opção para interoperabilidade.
Um objeto x
, pode ser visualizado na sua representação JSON com uma simples linha de código:
>>> import json
>>> json.dumps([1, 'simple', 'list'])
'[1, "simple", "list"]'
Outra variação da função dumps()
, chamada dump()
, serializa o objeto para um text file. Se f
é um text file aberto para escrita, podemos fazer isto:
json.dump(x, f)
Para decodificar o objeto novamente, se f
é um text file que foi aberto para leitura:
x = json.load(f)
Essa técnica de serialização simples pode manipular listas e dicionários, mas a serialização de instâncias de classes arbitrárias no JSON requer um pouco mais de esforço. A referência para o módulo json
contém uma explicação disso.
Ver também
O módulo pickle
Ao contrário do JSON, pickle é um protocolo que permite a serialização de objetos Python arbitrariamente complexos. Por isso, é específico do Python e não pode ser usado para se comunicar com aplicativos escritos em outros idiomas. Também é inseguro por padrão: desserializar dados de pickle, provenientes de uma fonte não confiável, pode executar código arbitrário, se os dados foram criados por um invasor habilidoso.